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extraviade

 

 

Revejo este filme em HD e me delicio não só com ele, mas com a pertinência de seu título. Tomar-nos de assalto, ser a antítese imediata da nossa expectativa, como um gatuno que se enfurna no esconderijo impossível: hipnotizado pelo porvir de Eleonore, vislumbro nele talvez a razão de ser do cinema dos Safdie em estado bruto. Espremida entre um fotograma e outro, ela só pode ser um impulso, um dar-o-bote, aquilo que toda imagem cinematográfica tangencia, seu sonho de consumo. A utopia de Bazin.

Truffaut falava muito do tal “prazer de ver”, espécie de pedra angular da reeducação do olhar que moldava aquele cenário em que se cunhava a própria definição de uma experiência que, para o bem ou para o mal, se entende atualmente por cinefilia. Estamos hoje em outra rotação, é óbvio. E é justamente ela que me obriga a chegar a uma conclusão um pouco diferente: ora, quando já se viu tudo, o que nos resta?

O prazer de ser roubado (Josh Safdie, 2008).

  

brigitte

 


& Brigitte, Luc Moullet, 1969

 

É fato consumado que as afirmações mais lúcidas do Moullet crítico foram tão estropiadas ao longo do tempo que acabaram se tornando curingas a serviço das intenções mais escusas possíveis, o tal significante vazio. Mas disso ele não tem culpa, muito menos este filme. Pelo contrário: cápsula de um espaço-tempo que desde então obseda o modus operandi de boa parte da cinefilia, seus momentos mais deliciosos se dão justamente nos instantes em que ele se revela expirado, velho, cheirando a mofo; quando arranja um jeito de fazer um personagem recitar com pompa as verdades-do-dia da crítica, jogar o livro de Sadoul no chão porque nele não há Fuller ou simplesmente desejar morrer numa sala escura de cinema, deslocando por acidente o espectador do futuro a testemunha ocular de um crime passional prescrito. Datado? Talvez, mas aqui é o melhor dos elogios, acreditem. Há as meninas e seus perrengues, principalmente, e cada coisa está ali por elas e através delas, inclusive a capacidade de saber rir disso tudo. É isso que fica pra mim.

  

legs

 


Beasts that cling to the straw, Kim Yong-hoon, 2020

 

Go for credit in the straight world
Look a dealer in the eye
Go for credit in the real world, won’t you try

I got some credit in the straight world
I lost a leg, I lost an eye
Go for credit in the real world you will die

It’s the credit in the straight world
Leave your money when you die
Lots of credit in the real world gets you high

I got some credit in the straight world
I lost a leg, I lost an eye
Go for credit in the real world, you will die

  

cristal

 


Sapphire Crystal, Virgil Vernier, 2019

 

Noel Carroll gastou 80 páginas tentando definir o que seria “terror”. Ernst Bloch falava em algo como um beco sem saída, onde não haveria lugar para o sonho. Mas e os pesadelos, onde ficam nessa? Um iPhone, alguns jovens herdeiros, uma noite de sexta, um raccord no eixo, 5 segundos. É isto.

  

visage

 

 

Balázs uma vez disse que todos os primeiros planos são iguais, réplicas dos de Lillian Gish.
 
Que disparate.
 
Até mais, Marianne.

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